Filhos da Luz

Algo muito importante para compreendermos a Parábola do Administrador Infiel, é que o homem rico de que fala a parábola, não é Deus. Nisso creio! Normalmente, nas histórias que Jesus conta, o Senhor ou o Pai são uma imagem de quem é Deus. A parábola anterior, do Filho Pródigo (capítulo 15), Jesus coloca um pai a representar Deus. Então, quando lemos esta parábola somos tentados a pensar que este homem rico, este senhor, é Deus. Mas não é, ou então, teríamos de dizer que Deus enaltece o erro. É por isso que devemos manter sempre na nossa mente o versículo 13 deste capítulo.

Lucas 16:13 | Nenhum servo pode servir a dois senhores, pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.

Havia um homem rico que confiava a administração dos seus bens a um outro homem. Este não era um homem comum. No tratado do século I, De re Rustica, ou Tratados do Campo, do escritor romano Columela, ficamos a saber que estes administradores tinham de passar por várias provas que aferiam a fidelidade e dedicação ao seu senhor.

Mas este administrador específico desperdiçou a oportunidade de ser um homem de confiança. Tal foi a forma desonesta como agiu, que o patrão chamou-o para o despedir. Porém, antes de ir embora, este homem tinha de devolver ao senhor todo o dinheiro que lhe tinha sido dado para gerir.

Nesse momento, este homem viu a oportunidade de preparar o seu futuro.

Chamou então as pessoas que tinham dividas com o seu patrão. Um devia 100 medidas de azeite. Ele disse que se sentasse e escrevesse que devia só 50. Outro devia 100 medidas de trigo. A este disse que escrevesse que devia só 80. Nesse momento, o documento que comprovava que determinada pessoa tinha uma divida com o seu senhor, assinada pelo punho do devedor, ficou resuzida de forma significativa.

Ao usar o engano, este homem pensava que conseguiria fazer casar a divida com os documentos assinados. Ao fazer isso, o senhor ficava contente porque recebia o dinheiro que estava contratualizado, os devedores ficavam contentes porque pagavam menos. Ele mesmo ficava contente porque, no futuro, poderia pedir favores a estes homens que acabara de ajudar.

Então acontece-se o impensável. O patrão acaba por enaltecer a forma como este administrador acabou por agir.

Se este reconhecimento fosse de Deus, era realmente estranho. Deus estaria a dizer que os fins justificam os meios. Neste caso o fim, que seria devolver ao patrão o dinheiro que era seu e assim evitar o castigo (que poderia ser a própria morte), justifica os meios usados, ou seja, que as pessoas pagassem somente uma parte, adulterando a dívida, enganando e mentindo. Mais, se este patrão fosse Deus, Jesus estaria a dizer que o engano é louvável e que é justo procurar segurança futura através da mentira presente. Ou seja, que é lícito demonstrar perdão com o intuito de ganhar algo mais à frente.

Mas, este homem rico não é Deus. Este homem rico é a representação dos homens e das mulheres deste mundo, que mediante a injuria que é cometida contra si mesmo, agem de forma a castigar; mas que mediante o engano ou os esquemas humanos que geram mais dinheiro ou geram dívida para o futuro, estão dispostos a ser tolerantes.

Amigos, este é o mundo em que vivemos. Um mundo em que os fins justificam os meios; um mundo em que a produtividade é mais procurada do que a fidelidade; um mundo em que a prosperidade é muito mais desejada do que a honestidade. Mas este não é o Reino de Deus. Este é o mundo que é astuto, mas que não é reflexo dos filhos da luz.

Nesse sentido, o versículo 9 é de uma tremenda ironia da parte de Jesus. No fundo o que Jesus está a dizer é: ‘Façam amigos por meio das riquezas da injustiça, e esperem, esperem e esperem… Quando chegarem ao céu, irão ver quem é que vos receberá…’.

Aliás, tendo em conta a parábola do grande banquete em Lucas 14, é muito claro que não serão homens e mulheres que estarão no banquete celestial à nossa espera; também é muito claro que aqueles que são convidados não são aqueles que granjearam amor e reverência por parte dos amigos, esses foram ver as terras, os tratores ou tratar do seu próprio casamento… Quem entra no banquete celestial são somente aqueles que são convidados por Deus e é Ele mesmo que os recebe.

Jesus está a dizer que se optarmos por seguir as formas de agir do mundo estamos perdidos.

  • Se o nosso foco são riquezas, estamos perdidos longe da casa do Pai;
  • Se o nosso foco é um trabalho bem remunerado, estamos perdidos;
  • Se o nosso foco é o reconhecimento por parte daqueles que nos rodeiam, estamos perdidos;
  • Se o nosso foco são honras e festas em nosso nome, estamos perdidos.

Vejam, de seguida, no versículo 10, Jesus diz que se formos fieis nas pequenas coisas do dia a dia, também seremos fieis quando tivermos muita responsabilidade. Mas se no trato uns com os outros não formos fiéis, quando chegar o momento de sermos administradores de uma grande multinacional, iremos pisar tudo e todos para chegarmos aos nossos objectivos.

Então Jesus coloca as coisas ao contrário. Se diante das injustiças não formos fieis, como o seremos no meio das justiças. Pensem comigo.

  • Se fecham os olhos para o mal;
  • Se fecham os olhos quando pirateiam um programa de computador;
  • Se fecham os olhos quando fogem às finanças;
  • Se fecham os ouvidos quando à abusos de linguagem;
  • Se fecham olhos quando há abusos físicos…

Acreditam mesmo que irão ser as pessoas indicadas para liderar uma família no caminho do bem, uma relação na edificação, ou uma igreja na proclamação do evangelho da libertação?!

Amigos, não se trata de sermos ou não amados por Deus, mas de sermos fiéis no que Deus nos dá – de sermos bons mordomos.

Se diante do mundo não conseguimos dizer “não”, estamos, na realidade a dizer “não” a Deus.

  • Se não dizemos NÃO à violência, dizemos NÃO à paz.
  • Se não dizemos NÃO à ofensa, dizemos NÃO à integridade.
  • Se não dizemos NÃO ao vícios, dizemos NÃO à dignidade.
  • Se não dizemos NÃO à infidelidade, dizemos NÃO à fidelidade.
  • Se não dizemos NÃO ao engano, dizemos não à honestidade.

Vivemos num mundo que opta pela defesa suprema do bem pessoal, porém o discípulo de Jesus opta pela defesa suprema do amor.

O discípulo de Jesus opta por dizer NÃO à violência, opta por dizer NÃO à ofensa, opta por dizer NÃO aos vícios, opta por dizer NÃO à infidelidade, opta por dizer NÃO ao engano… e opta por isso porque é livre, já não é escravo de nenhum senhor que não seja o Deus que enviou o Seu Filho único para nos amar até ao mais profundo do nosso ser.

A Deus a Glória!

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